18 de abr. de 2010

Coisas Ridículas e o Falar Fofucho




Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935

Quantas coisas ridículas fazem os apaixonados. Ridículas não só as cartas, mas tantas facetas do comportamento dos enamorados. Ligar só para dizer que tem saudade, ou para dar um oi, falar repetidamente as mesmas coisas, inclusive várias vezes por dia "eu te amo", "te adoro".
E a mais ridiculamente infantil, que é falar com o namorado como se fala com um bebê. Tchi tchi tá bem? Nhóoo morzinho e coisas melosas mais. E por que não? A infantilidade em alguns momentos não tira a seriedade de uma relação inteira, não impede papos sérios. A melosidade de certas frases não exclui a possibilidade de outras conversas, mais "calientes". Concordo que durante o sexo, ou amor, ou transa, como queiram, falar de forma infantil pode ser realmente broxante. Mas esta vontade de falar fofucho não combina com o clima de uma relação sexual, e não imagino um casal que fale axim durante o sexo.
Seriedade com pessoas próximas é burocratizar as relações. Assim como namorados brincam um com o outro, também podem ser meigos, fofos e ridículos um com o outro. Alguns podem até concordar com isso, mas se envergonham do falar fofucho perto de outros. Besteira. A maioria das pessoas que rirá será provavelmente do grupo dos invejosos, solitários, ou até mesmo acompanhados, que não podem falar assim com seu parceiro, mortos de vontade de ter um moreco para chamar de seu. E que fiquem com seus relacionamentos burocráticos, secos, e mais ridículos que todas as cartas e palavras de amor já feitas.

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