29 de nov. de 2015

Que parto!

E quanto tempo! Meus vinte leitores; Saudades! Queria escrever mais coisas sobre a gestação, mas agora, mais de 4 meses depois do nascimento do Caio parece já um mundo distante a época de gravidez. Os quilos já foram perdidos, a barriga secou, tirando o umbigo ainda meio caído, tudo voltou ao normal. Quantas vezes e quantas coisas quis escrever, mas parece que toda vez o Caio acordava, reclamava, protestava...pode ser timidez. Ele nem sabe da existência do diário da vida uterina dele. E nem das tantas experiências e vivências que ele nos faz ter pelo simples fato de estar no mundo. Hoje ele resistiu muito às sonecas e dormiu cedo à noite, escapando do banho (ah, malandro!). Por isso eu estou de volta.
Voltar ao blog é interessante, pois a última postagem foi exatamente um dia antes do nascimento, e no mesmo dia 3 de julho, por volta das 23:30 da noite a bolsa estourou. Mais de 20 horas depois, as 20:14 do dia 04 de julho Caio nasceu. E eu aqui escrevendo sobre os "longos" partos de 15 horas e o quanto eu esperava ser um dos casos de parto simples e natural, daqueles que nem precisa anestesia.
Ao menos as primeiras 10 horas não senti muita dor, as contrações pareciam fortes cólicas e tinham intervalos de meia hora entre elas. No final da manhã e no começo da tarde do dia 04 as dores aumentaram e ficaram menos espaçadas, e entre as contrações eu também sentia dor, só menos intensa. Pedi arrego mesmo,ou melhor, a peridural. A médica me perguntou pela manhã o grau da minha dor, de 0 a 10, e eu disse 7. No meio da tarde ela não perguntou, mas eu disse 11, me dá uma anestesia, PELAMORDEDEUS. Não exatamente com estas palavras, mas com este nível de desespero no olhar. Não gritei. Não entendo quem grita com dor. Até hoje acho que dor de quem grita não é tão aguda, pois com muita dor se fica fraco. Escorriam lágrimas aos borbotões como dizem nos livros antigos. E eu não conseguia falar quase nada. A pressão subiu e eu estava quase inconsciente. Disse o anestesista ter perguntado meu nome 3 vezes e eu não respondi. Perguntou? A médica não quis dar a anestesia logo, me pediu para tentar sentar na bola de Pilates (ai, doeu mais) ou ficar sentada embaixo do chuveiro quente, pois a dilatação estava grande e se tivesse anestesia ia demorar bem mais o parto. Eu falei: prefiro 3 horas de parto do que mais 1 minuto desta dor. Eu e minha grande boca novamente. Ficamos 3 horas na sala de parto.
A mão do pai foi tão apertada que ele teve de tirar a aliança para eu não machucar. E o chuveiro só serviu para amenizar as dores entre as contrações, pois as danadas continuavam doendo de quase desmaiar. Uma dor aguda e perturbadora. Achei que minha época de adolescente atleta poderia ter reforçado meu corpo. Mas na verdade tive muito mais tempo de sedentarismo.
Enfim, após uma longa hora de chuveiro e eu insistindo na anestesia, ela acionou o anestesista, mas ele estava acompanhando uma cesárea. Depois fui levada pra sala de anestesia, e esta história de passar imediatamente a dor não funcionou. Foi diminuindo, mas ainda doía e agora eu nem tinha mão para apertar, pois na sala fiquei sozinha olhando para um relógio de parede, sentada na cadeira de rodas nada confortável. Quando se podia conversar comigo e as lágrimas secaram, talvez uma hora depois, eu fui pra sala de parto.
Doutora Beatriz foi um poço de paciência e calma, parecia uma parteira velha e sábia, e não uma jovem médica. Colocou música, gênero escolhido por mim, me fez trocar de posição várias vezes para manter o ritmo dos batimentos do bebê, falava "ótimo", está quase, toda vez que eu fazia força. E o papai ponta firme do Caio falava "quase, muito bom". O "quase" deles demorou 3 horas, eu muitas vezes pensei em pedir uma cesárea, mas sabia que naquela altura não seria muito conveniente, pra dizer o mínimo. Por efeito da anestesia, só sabia que estava fazendo força por um alívio da dor na costela, e pela lembrança que temos do movimento de força para baixo.
A vovó do lado de fora rezou para a nossa senhora do bom parto, que eu nem sabia da existência, pelas longas horas.
Te digo que eu mesma quase não acreditei quando nasceu. E não tive nada de tanta emoção instantânea. Tive alívio, alívio porque deu certo, alívio porque acabou, alívio porque nasceu. E não acho que já sabia o que fazer ou como segurar o Caio. Estava trêmula do esforço, do cansaço, nada do que li me passava pela cabeça, nenhuma preparação na hora da estafa. As enfermeiras me deram e colocaram no meu peito para mamar o colostro. E elas apertam o peito, e dói, mas saiu o líquido, ufa de novo. Levo o Caio nos braços e na cadeira de rodas para o quarto depois de ser lavada e me colocarem a fralda.
Depois é a preocupação, a rotina de 48 horas de maternidade com muitas visitas para o Caio e para mim. Tira pressão, dá banho no Caio, toma remédio, traz lanche, traz almoço, vem pediatra, ginecologista, enfermeira, e sei lá mais quem do hospital. Não se dorme também, qualquer respirada mais funda do bebê eu acordava, pegava nele para ele me sentir e eu senti-lo.
Sinceramente só me emocionei mesmo quando saímos da maternidade, e mesmo na noite chuvosa e sem lua Caio prestava muita atenção em todas as luzes e movimentos, olhando com os olhos bem vivos e curiosos. Lá estava meu filho, experimentando o mundo pela primeira vez.