3 de jul. de 2015

Sobre os príncipes e princesas e o meu macaquinho!

De um tempo pra cá, não sei quando, virou moda chamar os filhos de "herdeiros", príncipes, princesas. Mesmo se os pais forem assalariados e sem muitas posses. Nos enfeites de porta de maternidades, chás de bebê, roupas e outros itens de decoração para crianças, proliferam as imagens de coroas, com tons dourados, rococós e outros ícones de realeza. Já lidávamos com as princesas Disney faz tempo, mas não lembro de ver tantas alusões à monarquia para comemorar o nascimento e a vida de ambos os sexos de crianças. Talvez em outros países com governos de monarquia isto nunca tenha deixado de ser moda, mas é interessante notar esta onda no Brasil, e ver que infelizmente o complexo de inferioridade tupiniquim ainda persiste em muitos âmbitos da nossa vida, mesmo assim disfarçados na beleza de inocentes artesanatos.
Dizer simplesmente que é brega seria uma opinião vazia. Não que eu não ache. Mas vou além. Acho mesmo a monarquia uma forma ultrapassada e onerosa de governo. Não acho bonito ser príncipe. Não me acho também uma "rainha do lar" para ter um "herdeiro" considerado príncipe. Não quero tampouco que ele seja tratado como tal, nem por mim nem por ninguém. Este tratamento diferenciado, como se realeza tivesse mesmo outra cor de sangue ou outro cheiro de cocô (no popular, cagar perfumado) não me parece adequado para educar nenhuma criança. Ainda mais uma de classe média, filho de professor no Brasil e de mãe por enquanto desempregada, e portanto, sem grandes regalias na vida.
Mas aí está também um sintoma de mães e pais "tardios", com mais de 30, quase 40 anos, que pensam em ter só um filho e acabam colocando a criança num pedestal. Muitas vezes trabalham como escravos para manter o padrão de vida de príncipe para o filho. E o filho pode tudo. Como um príncipe realmente. Mas no caso um príncipe filho de proletário. Estranha situação.
Por outro lado, se ele é um príncipe, terá de esperar calado sem muito poder apitar até que o rei ou rainha faleça e ele venha a assumir o "trono", o mando da casa. Interessante é que lendo um dos best sellers sobre educação no Brasil, "Quem ama, educa" emprestado por uma cunhada, Içami Tiba fala sobre uma casa democrática, onde os filhos podem também ter um papel decisivo em questões, desde que eles saibam mais sobre elas. Por exemplo, tecnologia. Não faz sentido o pai ou mãe escolherem sobre o computador ou a internet, se o filho pesquisa mais e sabe muito mais a respeito. Resguardado, claro, a questão financeira. Mas isto pode se tornar um debate, e as partes podem chegar juntas à melhor decisão, o tal melhor custo x benefício. Isto me parece uma boa dica e uma forma harmônica de educar. Muito diferente do principezinho mandar e desmandar, ou do rei ou rainha mandar e o príncipe sempre calar a boca. Mas parece que as pessoas leram e não absorveram esta parte do livro.
Pois é, por todos os lados que eu vejo, esta associação com monarquia me parece ruim. Opa, abro uma exceção para as alusões ao príncipe do livro "O pequeno príncipe" pois este fala sobre a necessidade de se manter a criança sonhadora dentro dos adultos, as amizades, e outras coisas essenciais e "invisíveis aos olhos" em nossa vida. O príncipe no caso é príncipe só de seu mundo particular, e sai humildemente pelo universo a conhecer e aprender com os mais variados tipos de seres e situações.
Mas em tempo de tantos príncipes, prefiro que nosso filho seja um macaquinho. Em minha adolescência minha mãe descobriu os signos chineses e nos deu livros sobre os nossos. Eu adorei ser macaco. Debochado, brincalhão. Sempre gostei de macacos, e achei o máximo este ser meu signo. Neste caso, filho de macaca, macaco será. Por uma dessas maluquices da vida, acabei indo morar no meio da maior floresta do mundo, de onde vieram meus pais e avós, e lá acabou sendo gerado nosso filho. Inicialmente quando pensei no tema para chá de bebê e para enfeite de porta não me passou pela cabeça esta associação, mas agradeço à minha amiga Marion por me lembrar de mais um motivo para que eu fuja das coroas e prefira as árvores e os macacos para recepcionar meu filho, que nascerá de uma mistura bem brasileira, com muito orgulho.

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