Eu queria era que você fosse mais escritor e descrevesse o que vê quando sai de casa, como se fossem fotografias mentais com as suas impressões.
Conte da sua infância, como era viver na cidade onde nasceu. Você sentia frio, calor, amor, alegria? Como eram seus amigos, qual sua brincadeira preferida ou tinha algum segredo, aquele que na época parecia ser um fim do mundo, e com o passar dos anos você viu como era nada?
E depois, quem foi a primeira paixonite, foi infantil ou foi adolescente? foi namoro ou flerte ou platônico? alguém mais velho ou coleguinha de escola.
Este retrato, além das fotos, era o que eu queria.
E as aulas, de escola, de curso, você bagunçava, prestava atenção, viajava no tema? Lia com antecedência a matéria, ou estudava tudo de última hora, na madrugada antes da prova ou na manhã do dia?
O que eu quero é material para fazer o romance que eu já tenho em minha cabeça. Preciso do material de um dos protagonistas. Pode ser parte fictícia, não me importa, desde que seja bonito, ou desde que eu possa usar floreando a meu gosto, ou fazendo parte fictícia.
Eu mudo os nomes, as datas, os locais, talvez algo muito marcante da cultura local fique difícil de mudar, isto talvez dará algumas pistas para um bom detetive literário. Mas mesmo assim será sem nome. Mudamos os nomes, talvez alguns mais comuns ou menos comuns, o que mais parecer sonoro, ou o que mais parecer disfarçar. é melhor parecer único ou é melhor mais um José ou João?
Não quero nomes, não quero datas, mas quero impressões para ver através dos seus olhos, quero saber se você vê poesia no mundo, como sente a música, se compara comida com música, se palavras te lembram filmes ou te lembram livros. se livros te lembram pessoas, ou pessoas te lembram poemas.
Qual lugar você sempre quis ir? Você conseguiu ou mudou de ideia?
quantas ideias você já mudou ou quantas vezes mudou de ideia. as suas, mais do que a dos outros, a dos outros nunca saberemos.
mas você insiste em falar como foi o dia de hoje, de ontem. e eu tenho que ter este trabalho aqui de fazer a cena toda sozinha. imaginar da sala à cozinha. imaginar a rua e a vizinha. as pessoas não ajudam os escritores e depois reclamam que não são fiéis. se não me alimentam de visões, eu imagino as cores.
Só isso eu pediria. Onde bate o sol quando senta no sofá? É bonito ver a luz escapando da cortina? Tem um muro, uma montanha, outra janela da janela? A hora que acordou não me importa. Tinha vento no rosto, tinha barulho, tinha nada. Pensou no passado ou no futuro. Sentiu gosto amargo, vontade de ficar mais, ou se sentiu acelerado. Pensou em alguém ou em muitas pessoas, na faixa de Gaza, na tragédia humana, na discussão passada, na palavra dada ou perdida.
imaginar roteiros é estar só. as pessoas não me dão mais moradia. fica a mente vagando distante, querendo do mundo um pouco mais de ousadia. onde se guarda o sonho, se ninguém mais sonha nada. como se inventa mundos, se contar do dia virou agenda, virou lista de padaria.
me contem, me contem tudo, não quero viajar sozinha. quero absorver do mundo as histórias. e mudar tudo que eu queria.
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